Quando se fala em Parkinson, a imagem que vem à mente são os tremores, a rigidez muscular e a lentidão dos movimentos. Mas a doença de Parkinson é muito mais do que isso. Trata-se de um distúrbio neurológico progressivo que pode afetar diversos sistemas do corpo — inclusive a audição.
Nos últimos anos, pesquisas têm mostrado que a perda auditiva pode estar presente em parte dos pacientes com Parkinson, sendo muitas vezes negligenciada ou confundida com outros sintomas. Entender essa relação é fundamental para garantir um cuidado mais completo e promover melhor qualidade de vida.
O que sabemos até agora
A doença de Parkinson compromete a produção de dopamina — um neurotransmissor essencial para o controle dos movimentos e outras funções neurológicas, incluindo o processamento auditivo. Embora o impacto nos ouvidos nem sempre seja percebido de forma direta, ele pode ocorrer de duas formas:
- Perda auditiva periférica: quando há redução na captação dos sons, geralmente por desgaste nas células da cóclea (parte do ouvido interno).
- Perda auditiva central: quando o cérebro tem dificuldade para interpretar os sons, mesmo que eles cheguem ao ouvido.
Estudos como o de Pisani et al. (2015) e Folmer et al. (2017) mostram que pessoas com Parkinson têm maior chance de apresentar essas duas formas de perda auditiva — com destaque para as alterações no processamento central. Em outras palavras: o som chega, mas não é compreendido com clareza.
Essa dificuldade pode se manifestar de maneiras sutis, como:
- Trocar palavras parecidas;
- Dificuldade para entender conversas em locais com ruído;
- Sensação de que “os outros falam baixo ou rápido demais”;
- Cansaço mental ao tentar acompanhar falas longas.
O envelhecimento natural — chamado de presbiacusia — também contribui para essa perda. Como a maioria dos pacientes com Parkinson tem mais de 60 anos, muitos chegam ao consultório com dois fatores atuando em conjunto: o avanço da idade e a disfunção neurológica.
Além disso, alguns medicamentos usados no tratamento da doença podem afetar a percepção auditiva, principalmente em uso prolongado. Por isso, é sempre importante considerar o histórico completo do paciente ao avaliar sua audição.
Impacto emocional e social
A perda auditiva não tratada tem consequências reais: isolamento, frustração, insegurança e, em muitos casos, piora do quadro cognitivo. Em pessoas com Parkinson, isso pode intensificar sintomas já presentes, como apatia, lentidão no pensamento e retraimento social.
A comunicação já está fragilizada em muitos desses pacientes — seja pela redução da expressividade facial, pela voz mais baixa ou pela dificuldade de articulação. Quando a audição também está comprometida, a troca com o mundo fica ainda mais limitada.
É por isso que a saúde auditiva não pode ser um detalhe. Ela é parte do cuidado integral.
O que pode (e deve) ser feito
1. Observar os primeiros sinais
Muitas perdas auditivas se instalam de forma gradual. É importante estar atento a indícios como:
- Aumentar o volume da TV frequentemente;
- Responder de forma inadequada em conversas;
- Pedir que repitam com frequência;
- Recolhimento em situações sociais;
- Queixas de zumbido.
Esses sinais devem ser levados a sério, especialmente se a pessoa tem Parkinson.
2. Avaliação auditiva completa
O fonoaudiólogo é o profissional indicado para realizar testes auditivos específicos. Em casos de Parkinson, é essencial fazer uma avaliação detalhada, considerando:
- Percepção em ambientes silenciosos e ruidosos;
- Tempo de resposta auditiva;
- Compreensão de fala;
- Histórico de medicamentos.
Quanto mais cedo a perda auditiva for detectada, mais eficaz será a intervenção.
3. Uso de aparelho auditivo
Quando indicado, o aparelho auditivo pode transformar a vida do paciente. Além de restaurar a capacidade de ouvir com mais nitidez, ele reduz o esforço mental envolvido em cada conversa — aliviando a sobrecarga cognitiva comum no Parkinson.
Modelos modernos são leves, discretos e ajustáveis. A adaptação, quando bem acompanhada, costuma ser tranquila e altamente benéfica.
Para muitos pacientes, o aparelho auditivo representa a reconexão com o ambiente, com os familiares e com a própria autonomia.
4. Acompanhamento contínuo
O cuidado com a audição não termina na adaptação. É preciso manter o acompanhamento regular, ajustando o aparelho conforme a evolução do quadro neurológico e garantindo que o paciente continue se beneficiando do uso.
Esse cuidado deve envolver também neurologistas, otorrinolaringologistas, psicólogos e terapeutas ocupacionais. A abordagem integrada é a chave para um tratamento eficaz e humano.
Por fim, a relação entre Parkinson e perda auditiva é real e merece atenção. Não se trata de um detalhe secundário: é uma questão de comunicação, de segurança, de dignidade e de conexão com a vida.
Se você convive com alguém que tem Parkinson — ou se é esse alguém — e percebeu mudanças na audição, não ignore. A reabilitação auditiva pode ser um divisor de águas.
Agende uma avaliação auditiva completa com nossa equipe especializada. Estamos prontos para oferecer o suporte que você ou seu familiar merece — com cuidado, escuta e respeito.